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   O EREA Pontes traz como Cidade FeNEA um recorte da Região Metropolitana da Grande Vitória - sendo elas Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra - entendendo a capital e suas cidades satélites como uma unidade impassível de estudo isolado. 
   Serão tratados cinco eixos temáticos divididos pelos dias do encontro, sendo as pautas da federação contempladas por estes: Território e Ocupação, Patrimônio e Meio Ambiente, Política e Economia, Cultura e Identidade, Combate às opressões, com Educação trespassando-os.
   Ponte é um elemento físico. Concreto, aço, construído para unir. Mas também é vista no nosso contexto como segregadora, quando em seus limites encontram-se realidades distintas.
   Pontes é um elemento surreal, imaginário. Somos pontes, somos mar. Ao mesmo tempo que somos conexões, somos separatistas. Nossas atitudes, ações, vontades, fazem cidade - e desigualdade. 

 

    Como ser ponte sem separar?

eixos temáticos

território e ocupação

    Os diversos processos que culminaram na formação da Região Metropolitana da Grande Vitória resultaram em cidades com características urbanas peculiares e opostas entra si, e modos de produzir e habitar a cidade que são reflexos dos mesmos períodos de crescimento.

    A formação urbana da Grande Vitória se como fruto da colonização portuguesa, estabelecida em terrenos acidentados por estratégias de defesa, como visto nos centros históricos de Vitória e Serra.

     Os períodos de modernização e de crescimento a partir do século XIX modificam a cidade e sua geografia natural construindo pontes e aterros (vide Novo Arrabalde), que daria origem à áreas nobres na capital e Vila Velha. Essas ações são exemplos de um pensamento republicano e higienista, que acabaria por demarcar e conformar profundamente o espaço urbano como elemento segregador e elitista, que continua privilegiando a terra como bem de poucos e simultaneamente marginalizando uma grande massa populacional, empurrando-as sobre os morros, vales e mangues sem garantir a estas uma qualidade urbana satisfaória para seu desenvolvimento.

patrimônio e meio ambiente

   Ao passo que crescem e se modernizam, as cidades evoluem e transformam seus limites físicos e espaciais, modificando a sua própria forma e principalmente o modo como seus habitantes a usufruem. Assim, a falta de questionamento dentro desse território e de seu processo de ocupação se intensifica a partir de uma aceleração dos ritmos urbanos, transformando os cidadãos em máquinas reprodutoras de uma superficialidade comum. Na Grande Vitória, seu desenvolvimento transcorreu sobre um território físico largamente acidentado, principalmente o litoral (através do porto) e as cidades coloniais, cujo grande parte do patrimônio constituído surge da exploração da força física indígena e negra.

   O patrimônio material ainda existente aponta para um paradoxo da modernização, no qual a condição de patrimônio atribuída a alguns signos históricos preservados surge somente após a eliminação de vários elementos similares e do mesmo período. A percepção e concepção dos efeitos de crescimento da cidade sobre seu patrimônio natural, imaterial e material, também é prejudicada, dada a velocidade dos acontecimentos e modificações.

política e economia

   A condição insular de Vitória até o início do século XX impedia a integração entre as cidades da região até o início do ciclo do café e os primeiros aterros na capital e ligações da ilha com o continente. Durante a década de setenta, assim como outras grandes cidades brasileiras, sofre um boom populacional promovido principalmente pela instalação de complexos mineradores e portuários e que exerceram grande influencia na formação urbana da região. A ausência de Estado e Políticas Urbanas para o desenvolvimento de novas áreas evidencia o despreparo dessas cidades pra receber o intenso fluxo migratório.

   Como consequência as cidades apresentam várias disparidades físicas e sociais, como as regiões periféricas de Vitória que, ainda que muito carentes, apresentem melhores índices de desenvolvimento que as regiões mais afastadas de Vila Velha, Serra e Cariacica, que continuam a se (sub)desenvolver em função da capital, carecendo de políticas urbanas independentes . A política de metropolização se submete à um processo mercadológico acerca da capital enquanto as outras cidades funcionam como suporte dessa política.

cultura e identidade

   Conhecer um local envolve também conhecer sua cultura, costumes e modos de vida. Os capixabas são conhecidos pela panela de barro, moqueca capixaba ou jongo, elementos proeminentes e inquestionáveis de um mosaico cultural extremamente heterogêneo mas que não chegam a explicar qual nossa identidade cultural.

  Construída originalmente sobre matrizes culturais portuguesas, indígenas e africanas, a Grande Vitória aparece como um vulto na história colonial brasileira. Com o estado servindo de defesa natural às minas gerais, durante séculos permaneceu isolado tendo seu desenvolvimento econômico e social prejudicado pelo seu contexto nacional atrelado à dependência da produção externa.

  Com o advento da cafeicultura e visando superar os atrasos de sua condição provinciana, no século XIX o Espírito Santo recebe grandes massas de imigrantes que se juntaram ao núcleo original e acabaram por influenciar fortemente a identidade capixaba.

  Dessa forma, sua identidade cultural é relativamente recente, cuja condição provinciana originou o hábito de incorporar facilmente aos seus hábitos elementos originais de outras partes do país, e baseada principalmente nos modos de vida do que nos elementos produzidos.

combate às opressões

   A cidade não foi pensada para Mulheres, Negros, LGBT’s e outros grupos marginalizados, os excluindo e silenciando.

   Na Grande Vitória, os elementos urbanos que compõem e replicam um modelo de cidade opressora, carregam realidades sociais completamente distintas e opostas, dentro de um mesmo espaço relativamente reduzido, onde as mesmas pontes e ruas que unem, segregam.

   Enquanto nossa capital coleciona premiações de melhor cidade para se viver,  Serra e Cariacica, cidades vizinhas, ainda sustentam dois segundos lugares: de maior taxa de feminicidio e que mais mata negros, respectivamente.  Nossas cidades não respeitam seus habitantes, os segregam e excluem. Há uma absurda carência de políticas urbanas que integrem, respeitem e compreendam os privilégios enraizados na estrutura político-social. A vida urbana de fato não é a mesma para todos,  é um reflexo da forma que a sociedade se relaciona entre si. Até quando nós e nossas cidades irão (re)produzir opressões?

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